Imagine um dispositivo médico ou uma sonda espacial funcionando por centenas ou até milhares de anos sem necessidade de recarga. A ideia pode parecer saída da ficção científica, mas tem fundamentos reais em pesquisas que datam de meados do século XX, quando os cientistas começaram a explorar o uso de radioisótopos para geração de energia elétrica, principalmente em espaçonaves e sondas enviadas a regiões remotas do sistema solar. Essas baterias, conhecidas como geradores termoelétricos de radioisótopos (RTGs), já foram utilizadas com sucesso em missões como as das sondas Voyager, ainda ativas após mais de 40 anos no espaço.
A nova geração de baterias nucleares, como a desenvolvida pelo Daegu Gyeongbuk Institute of Science and Technology (DGIST), utiliza avanços recentes em materiais semicondutores e nanotecnologia para converter com maior eficiência a energia da radiação beta em eletricidade. Ao integrar carbono-14 — um isótopo com meia-vida milenar — a estruturas de perovskita otimizadas, essa tecnologia busca fornecer uma fonte de energia limpa, segura e incrivelmente durável para pequenos dispositivos eletrônicos em aplicações onde a substituição de baterias é impraticável.
Como funciona a bateria nuclear com perovskita e carbono-14?
A nova bateria utiliza um isótopo radioativo chamado carbono-14 (C-14), combinado com um material semicondutor emergente: a perovskita. O carbono-14 emite radiação beta — um tipo de partícula que não penetra a pele humana e pode ser facilmente bloqueada com materiais como alumínio —, tornando a tecnologia biologicamente segura para uso em ambientes sensíveis.

O diferencial da pesquisa coreana está na engenharia dos materiais: os cientistas trataram a perovskita com aditivos como MACl e CsCl, aumentando sua mobilidade eletrônica em mais de 56 mil vezes. Já o carbono-14 foi convertido em nanopartículas tipo “quantum dots”, otimizando a geração de energia.
Por que essa tecnologia importa?
O carbono-14 tem uma meia-vida de cerca de 5.700 anos, o que significa que decai muito lentamente. Isso permite que forneça energia constante por séculos ou milênios. Apesar de sua potência ainda ser inferior à das baterias de íons de lítio, o grande diferencial está na longevidade, estabilidade e segurança da operação.
Aplicativos práticos e revolução em setores estratégicos
A tecnologia pode transformar vários setores:
- Medicina: Imagine um marca-passo implantado que nunca precise de substituição. Atualmente, esses dispositivos requerem troca de bateria a cada 5 a 10 anos, o que implica cirurgias invasivas. Com a nova bateria nuclear, esse cenário mudaria drasticamente.
- Exploração espacial: Futuras missões espaciais a destinos distantes poderiam operar com sensores e câmeras energizados continuamente por décadas, sem necessidade de intervenção humana.
- Segurança e monitoramento remoto: Sensores instalados em florestas, desertos, calotas polares ou áreas de risco poderiam funcionar por décadas sem manutenção, facilitando a coleta de dados em locais inóspitos.
- Internet das Coisas (IoT): Em locais como oleodutos, redes subterrâneas ou ambientes industriais de risco, dispositivos com baterias de longa duração seriam uma solução ideal para redução de custos operacionais.

Outras iniciativas globais e comparações
- Reino Unido: A UKAEA e a Universidade de Bristol desenvolveram uma bateria de diamantes sintéticos com carbono-14 para dispositivos de longa duração. Destaca-se pela durabilidade e segurança.
- China – Betavolt: Protótipo com níquel-63, fornecendo 100 µW e 3 V, com vida útil de 50 anos. Visa a comercialização em larga escala.
- China – Projeto Zhulong: Combina carbono-14 e silício-carbeto, fornecendo 433 nW e 2,1 V, opera por mais de 100 anos sob condições extremas.
Cada projeto busca um equilíbrio diferente: Betavolt aposta na miniaturização e potência; Zhulong e o britânico priorizam estabilidade e longevidade. As primeiras aplicações comerciais devem ocorrer na próxima década.
Limitações e desafios para o futuro
- Eficiência limitada: A taxa de conversão ainda é baixa em relação a outras tecnologias.
- Custos elevados: O carbono-14 é raro e caro, exigindo reatores nucleares para sua produção.
- Regulação internacional: O uso de materiais radioativos requer conformidade com normas rigorosas de transporte, uso e descarte, o que pode atrasar a adoção em larga escala.
- Riscos ambientais: Ainda que a radiação beta seja segura em pequenas quantidades, o descarte inadequado pode causar impactos ambientais.
- Falta de infraestrutura industrial: Não existem plantas industriais prontas para a fabricação em massa dessas baterias.
Conclusão
As baterias nucleares com carbono-14 e perovskita têm potencial para transformar setores onde energia de longa duração e confiabilidade são críticos. O caminho até a adoção em massa ainda é longo, mas os avanços atuais são promissores.
E você, conseguiria imaginar um futuro em que nunca mais precisamos carregar nossos dispositivos? Compartilhe sua opinião nos comentários!
Fontes
- https://interestingengineering.com/energy/nuclear-battery-with-perovskite-offers-longevity
- https://www.neowin.net/news/this-amazing-new-battery-has-life-so-long-you-may-never-have-to-recharge
- https://techxplore.com/news/2024-12-scientists-world-carbon-diamond-battery.html
- https://www.world-nuclear-news.org/articles/carbon-14-diamond-battery-is-world-first-say-uk-scientists
- https://www.world-nuclear-news.org/articles/nuclear-battery-chinese-firm-aiming-for-mass-mark
- https://www.ecns.cn/news/sci-tech/2025-03-17/detail-ihepukce6676951.shtml
